"Trabalho comum sobre plano americano". Zelensky colhe mão-cheia de diplomacia na Europa

A reunião entre Keir Starmer, Emmanuel Macron, Friedrich Merz e Volodymyr Zelensky, em Londres, permitiu “prosseguir o trabalho comum sobre o plano americano” para o futuro da Ucrânia.

Carlos Santos Neves - RTP /
Tolga Akmen - EPA

Debaixo de novo rol de críticas da Casa Branca de Donald Trump, o presidente ucraniano avistou-se esta segunda-feira com o presidente francês, o primeiro-ministro britânico e o chanceler alemão. O triunvirato de aliados de Kiev voltou a exprimir solidariedade para com o país invadido pela Rússia. E algum “ceticismo” relativamente a “certos detalhes” do plano norte-americano para pôr cobro à guerra.

Durou menos de duas horas o encontro de Volodymyr Zelensky com Emmanuel Macron, Keir Starmer e Friedrich Merz na capital britânica - a anteceder uma segunda escala diplomática do chefe de Estado ucraniano, em Bruxelas, com os presidentes do Conselho Europeu e da Comissão Europeia, António Costa e Ursula von der Leyen, e o secretário-geral da NATO, Mark Rutte.

A reunião londrina, resumiu ao final da tarde o Eliseu, serviu sobretudo para “prosseguir o trabalho comum sobre o plano americano”, tendo em perspetiva “completá-lo com os contributos europeus, em estreita coordenação” com Kiev.

Este trabalho, acrescentou a Presidência francesa, “está em finalização” por parte de conselheiros de segurança nacional. A troca de contactos entre europeus, norte-americanos e ucranianos “deverá permitir reforçar a convergência nos próximos dias”.“Em paralelo, o trabalho vai ser aprofundado para fornecer à Ucrânia garantias de segurança robustas, assim como prever medidas para a reconstrução”, rematou o gabinete de Macron, citado pela agência France-Presse.


Na abertura da reunião em Londres, o chanceler alemão declarou-se “cético” perante “certos detalhes nos documentos provenientes dos Estados Unidos”. Sem, todavia, avançar com pormenores.
Macron afinou pela mesma nota dominante, ao assinalar que “a principal questão” é “a convergência entre posições comuns entre europeus e ucranianos e os Estados Unidos”.
“Há algumas coisas que não podemos gerir sem os americanos, algumas coisas que não podemos gerir sem a Europa, e é por isso que devemos tomar decisões importantes”, sublinhou Zelensky.
Volodymyr Zelensky indicou que as propostas europeias e ucranianas para o plano de paz gizado por Washington poderão ser ultimadas na terça-feira.


Mesmo antes da reunião, o anfitrião britânico quis deixar claro que a postura europeia não passará por exercer “pressão sobre o presidente” ucraniano para que este aceite as propostas da Administração Trump.

“O mais importante é chegar a uma cessação das hostilidades justa e duradoura”
, sintetizou Starmer em declarações à ITV News.A Rússia, que domina atualmente mais de 80 por cento do Donbass, no leste da Ucrânia, tenciona absorver todo este território. O que é contestado por Kiev.


No passado sábado, Volodymyr Zelensky havia afirmado ter mantido uma conversa telefónica “substancial e construtiva” com os emissários norte-americanos Steve Witkoff e Jared Kushner, que contou ainda com a participação dos próprios negociadores ucranianos envolvidos nas negociações da última semana na Florida.Witkoff e Kushner foram também recebidos, na semana passada, pelo presidente russo, Vladimir Putin. O Kremlin sinalizou progressos, mas contrapôs de imediato que ainda há “muito trabalho” por diante.


No domingo, durante uma noite de gala em Washington, o presidente dos Estados Unidos, que tem oscilado entre a aproximação e o distanciamento face a Zelensky, voltou à carga com críticas a Kiev.

“Temos falado como presidente Putin e temos falado com os dirigentes ucranianos, incluindo o presidente Zelensky. E devo dizer que estou um pouco desiludido que o presidente Zelebnsky não tenha ainda lido a proposta, até há poucas horas. O seu povo adora-a, mas ele não”, apontou Donald Trump.
“A Rússia está de acordo. A Rússia preferia ter todo o país, quando pensamos nisso, mas acredito que a Rússia está de acordo”, acrescentou o inquilino republicano da Casa Branca.

O presidente da Ucrânia voltou esta segunda-feira a vincar que o país não pode abdicar de território para a Rússia de Putin.

c/ agências
PUB